03 julho 2006

Sonhada volta ao mundo

(Parte da minha história “Sonhada volta ao mundo”, no qual ainda estou trabalhando)

As palavras do meu pai ainda ecoam na minha memória. Entre tantos encontros e despedidas, nunca havia visto ele chorar tanto daquele jeito. “Estou super feliz por você. Você merece”, disse, aos soluços. Ele sempre foi o modelo de homem que eu queria para mim. Meu pai, meu herói.

Dois dias depois do meu casamento, lá estava eu de malas prontas no aeroporto de Guarulhos. As lágrimas, entretanto, eram constantes. Passei anos sonhando com meu casamento e minha lua-de-mel, sobretudo em viver com o Matthew, meu marido, e deixar de sofrer pela nossa distância e o tempo em que ficávamos sem nos ver. No entanto, eu parecia estar dividida. Toda vez que me despedia do Matthew, as lágrimas não hesitavam em cair. Agora, elas caíam por outro motivo: eu estava indo embora, e estava me separando dos meus pais. Era triste pensar que eu, com 24 anos, parecia ter sempre um motivo para chorar. “Não quero viver de despedidas”, pensei comigo mesma.

Mas não adianta, pois eu sabia que isso iria acontecer. De certa forma, eu aceitava, pois era em Londres que eu queria trabalhar, estudar e acima de tudo, viver e começar a vida de casada ao lado do meu marido. Sabia que seria um tanto doloroso, só não imaginava que sentiria tanto essa dor da maneira que senti.

O avião decola em direção a Santiago, onde faríamos conexão para a Ilha de Páscoa. Tento olhar para baixo e ver o Brasil mais uma vez antes de partir, mas o chileno ao meu lado sentado perto da janela, não dava a mínima importância para o que ele poderia ver ali embaixo. Eu chorava no avião, meus olhos estavam inchados. Queria mesmo era me esconder. Do outro lado, o Matthew parecia não entender nada de emoções, sentimentos, dor, saudade e tristeza. Ele devia estar pensando algo do tipo “como ela pode estar triste se está em lua-de-mel prestes a dar a volta ao mundo?”. Não, provavelmente ele não entendia mesmo.

Seis horas depois, já em Santiago, sentia-me melhor. Liguei para minha mãe para dizer que estava bem. Ela, do outro lado do telefone, parecia que ainda não tinha se acostumado com a idéia de viver longe da filha. E pra falar a verdade, eu também não. “Mãe, só estou ligando pra dizer que chegamos bem em Santiago”. Mentira, eu queria mesmo era mais um pouquinho dela, de falar com ela, saber se ela estava bem. Resolvi desligar logo. “Não quero começar a chorar novamente”, pensei.

1 Comments:

Blogger Kathia said...

Oi Mari, entrei no teu blog pelo orkut. E ta bem legal!
Essa dorzinha da despedida eh a pior neh? Eu mesmo casada com um ingles, continuo no Brasil, mas longe da minha familia tbem. Minha mae mora em Presidente Prudente, meu pai em Goias e resto da familia expalhada pelo Brasil. E, muitas vezes nao eh facil ficar longe. Talvez daqui a alguns anos seja preciso passar um tempo na Inglaterra tbem, mas por enquanto eh so para passear...
Bjo e que Deus te abencoe muito por aih.
Katia

12:04 AM  

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