01 agosto 2006

Pra lá de Bonito

(Matéria originalmente publicada na revista Viração, São Paulo, outubro/2004)

Mariana Cacau, de Bonito - MS

Ele simplesmente tem prazer pelo que faz. Também, quem não teria? Trilhas, caminhadas pelas matas, flutuação nos rios com peixes coloridos, visitas às grutas todas as semanas e, ainda com sorte, deparar-se com uma sucuri.

O cenário: Mato Grosso do Sul. A cidade? Bonito. É ali mesmo, naquele lugar com pouco menos de 20 mil habitantes, que encontramos Ederval Carbonaro, um jovem guia de 30 anos que há 8 vem dedicando todo o seu trabalho em defesa da cidade e do turismo. Nascido em Itaporã, a alguns quilômetros dali, Ederval foi para Bonito e gostou tanto da cidade que resolveu ficar. Dois anos depois, foi convidado a fazer um curso de guia. "Passei nos testes e logo comecei nessa área", conta.

Trabalhar como guia em uma das mais belas e melhores cidades de ecoturismo do Brasil é muito prazeroso, mas não é tão fácil como parece. E como em tudo que se faz, há vantagens e desvantagens. Ederval aponta a qualidade de vida como um dos principais pontos positivos de seu trabalho, além de poder conhecer muitas pessoas. "Tenho contato diariamente com muita gente de todos os lugares do mundo", afirma. "Isso enriquece muito meu conhecimento e minha cultura."

Mas qual será o lado ruim de ter um escritório em campo aberto, em uma mata cheia de bichos, com rios de água límpida e peixes de todos os tipos? A resposta, ele mesmo dá. "Às vezes, perdemos um pouco nossa liberdade. O turista depende totalmente dos guias para fazerem as coisas e acabamos virando o centro das atenções. Isso nos esgota um pouco, apesar de ser conseqüência do trabalho", conta.

Capaz de diferenciar o canto de cada pássaro, uma plantinha da outra, ou ainda um tronco de árvore entre milhares que podem ser vistos na região, Ederval afirma que ser guia é uma profissão como as outras, apesar de parecer que ele passeia todos os dias. "Não é assim. Eu trabalho com pessoas, e para isso preciso de uma dinâmica e de um jogo de cintura muito grande", avalia.

Para Ederval, um turista em Bonito não faz somente ecoturismo, mas também recebe um pouco de aula de educação ambiental. "Se o turista não pode fazer algo, o guia explica o motivo e as conseqüências para a natureza." Cuidar dos turistas é um jeito bonito de trabalhar, curtir a vida e a natureza. Aliás, é pra lá de Bonito.