01 agosto 2006

A arte de investigar a vida

(Matéria originalmente publicada na revista Viração, São Paulo, novembro/2004)

Mariana Cacau (texto e foto)

Persistente, calmo, flexível e democrático. Ouvir e aprender com os outros. É assim que o jornalista Caco Barcellos se considera em poucas palavras. Dono de uma fantástica trajetória de reportagens e histórias jornalísticas, Caco ingressou nessa profissão por acaso, quando ainda estudava engenharia e percebeu que tinha aptidões para a escrita. "Gostava muito de escrever e comecei a fazer o jornal da faculdade", lembra. "Então, parei o curso que estava fazendo e fui com o jornalismo até o fim".

Depois de ter trabalhado por alguns anos de forma independente na América do Sul e Central, onde contava história dos povos latinos, Caco foi convidado a trabalhar na mídia impressa e, só mais tarde, foi parar na televisão. "Gostei muito da TV quando fui morar nos Estados Unidos", explica o gaúcho. Hoje, entre idas e vindas, ele está há mais de 15 anos na Rede Globo.

A investigação é uma de suas grandes marcas. Para ele, tudo deve ser perfeitamente planejado e tem como fator básico para esse tipo de jornalismo a segurança. Caco conta que algo que considera fundamental é avisar o acusado de todas as informações que possui contra ele antes de colocar a reportagem no ar. "A primeira coisa que eu faço antes de denunciar alguém é avisar que vou denunciar", explica. "Isso serve para ele poder se defender e provar que eu estou equivocado. Se minhas informações estiverem erradas, serei obrigado a jogar no lixo anos de pesquisa que foram levantadas contra ele", conta.

Seus dois mais recentes livros também tiveram como base a investigação: Rota 66 e Abusado. O último narra a história de um traficante no morro Dona Marta e revela o esquema da venda de drogas e outras atividades ilegais no Rio de Janeiro. Além disso, Caco ganhou a confiança dos moradores do morro e a ele foram contadas as táticas das quadrilhas e a rota que a droga percorria. Isso lhe rendeu, em setembro, o Jabuti como livro do ano na categoria não-ficção, o mais tradicional e importante prêmio literário brasileiro. "Foi uma grande surpresa para mim", entusiasma-se.

Depois de alguns anos vivendo na fria cidade de Londres - assim ele mesmo descreve - como correspondente internacional, o jornalista agora vive em Paris, de onde também envia suas reportagens para o Brasil. Lembra, porém, para aqueles que começam agora, que ter talento somente não basta. Com anos de experiência nessa área, ele garante uma coisa: tem que trabalhar.

Se ele, que tem talento de sobra, diz isso, alguém vai duvidar?