16 dezembro 2006

Desafios de um imigrante

Morar no exterior pode parecer glorioso diante dos olhos de quem nunca esteve fora do Brasil. Um novo mundo, nova língua e nova cultura. Uma experiência única. Lição de vida. Coragem. Vivência. As pessoas que olham para nós julgam-nos respeitados e admirados aqui fora. Acham que estamos bem financeiramente, que temos um certo “status” e que, por isso, vamos subestimá-las. Mas as coisas, já sabe o leitor, nem sempre são assim.

A vida no exterior pode, certamente, ter um certo glamour. Temos a possibilidade de crescer culturalmente, curtir a vida de uma maneira diferente e fazer coisas que praticamente nunca teríamos a oportunidade de fazer no Brasil. Mas por outro lado, também pode ser estressante. E muitas vezes, sofrida.

Trabalhar inúmeras horas pode ser um bom exemplo. Uma vez entrevistei um humilde brasileiro que encontrei nas ruas de Lisboa. Queria apenas seu depoimento para a seguinte pergunta: por que você veio para Portugal? O rapaz, um jovem do interior paulista que veio atrás de emprego, confessou que trabalhava 17 horas por dia e disse que apenas não foi para os Estados Unidos ou Inglaterra porque não falava inglês.

Situações como regularização de vistos, atendimento público em postos de saúde, desemprego, necessidade, falta da família e dos amigos são apenas alguns tópicos a serem citados. Noites mal dormidas, preconceito por ser brasileiro e o frio intenso são apenas outros exemplos. E sem falar da cara fechada desse povo que não parece nada com o latino. E se por acaso eles sabem rir, nós sabemos dar gargalhada.

Más experiências, contratempos e sofrimentos. O interessante de tudo isso é perceber que, ainda assim, a maioria dos imigrantes ainda têm outro desafio: o dilema de renunciar essa vida e regressar ao Brasil.