16 dezembro 2006

Combate ao tráfico humano

Representantes do Brasil e de Portugal se reuniram em Brasília nas últimas semanas de 2006 para debater um assunto que há muito tempo parecia ter sido esquecido pela sociedade: o tráfico de seres humanos.

Durante o encontro, a comissão parlamentar portuguesa apresentou uma investigação sobre os cidadãos irregulares que comprova que 150 mil brasileiras se prostituiram na Europa somente no ano de 2005. Devido à facilidade com o idioma, mais da metade se encontrava na Península Ibérica vivendo sob um regime de semi-escravidão e longe dos grandes centros urbanos. Dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), de Portugal, provam que mais de 50% das mulheres detidas em ações de fiscalização em território luso eram vítimas de redes internacionais de prostituição. Um número assustador.

Por isso, o governo português anunciou recentemente que vai legalizar os imigrantes irregulares que colaborarem com a polícia e a Justiça no combate ao tráfico de pessoas. O Estado garante a proteção da vítima e até menciona um tipo de atendimento social e psicológio, se for necessário. Essa nova lei, que ainda vai ser apresentada na Assembléia da República de Portugal, tem como objetivo principal desmantelar as redes de imigração ilegal que há espalhada em todo o território português.

Além dos números apresentados durante o seminário em Brasília, autoridades brasileiras e portuguesas afirmaram que o Brasil é o principal “fornecedor” da mercadoria, que pode até mesmo ser encomendada pela internet. Com promessas de uma vida melhor, esses imigrantes, sobretudo as mulheres, acreditam ingenuamente que do outro lado do Atlântico tudo pode ser diferente. Quando chegam num país desconhecido, têm seus passaportes “apreendidos” pelos organizadores do tráfico e passam a servir de objetos de escravização sexual.

Segundo as estimativas da ONU, esse tipo de tráfico pode movimentar até 7 bilhões de dólares anualmente. Resta, no entanto, esperar que a nova lei seja aprovada. Quem sabe assim, oferecendo uma autorização de residência aos ilegais, as polícias de Portugal e Espanha, principalmente, conseguem destruir essas perigosas organizações.

Desafios de um imigrante

Morar no exterior pode parecer glorioso diante dos olhos de quem nunca esteve fora do Brasil. Um novo mundo, nova língua e nova cultura. Uma experiência única. Lição de vida. Coragem. Vivência. As pessoas que olham para nós julgam-nos respeitados e admirados aqui fora. Acham que estamos bem financeiramente, que temos um certo “status” e que, por isso, vamos subestimá-las. Mas as coisas, já sabe o leitor, nem sempre são assim.

A vida no exterior pode, certamente, ter um certo glamour. Temos a possibilidade de crescer culturalmente, curtir a vida de uma maneira diferente e fazer coisas que praticamente nunca teríamos a oportunidade de fazer no Brasil. Mas por outro lado, também pode ser estressante. E muitas vezes, sofrida.

Trabalhar inúmeras horas pode ser um bom exemplo. Uma vez entrevistei um humilde brasileiro que encontrei nas ruas de Lisboa. Queria apenas seu depoimento para a seguinte pergunta: por que você veio para Portugal? O rapaz, um jovem do interior paulista que veio atrás de emprego, confessou que trabalhava 17 horas por dia e disse que apenas não foi para os Estados Unidos ou Inglaterra porque não falava inglês.

Situações como regularização de vistos, atendimento público em postos de saúde, desemprego, necessidade, falta da família e dos amigos são apenas alguns tópicos a serem citados. Noites mal dormidas, preconceito por ser brasileiro e o frio intenso são apenas outros exemplos. E sem falar da cara fechada desse povo que não parece nada com o latino. E se por acaso eles sabem rir, nós sabemos dar gargalhada.

Más experiências, contratempos e sofrimentos. O interessante de tudo isso é perceber que, ainda assim, a maioria dos imigrantes ainda têm outro desafio: o dilema de renunciar essa vida e regressar ao Brasil.

Fim de um sonho brasileiro

Em maio deste ano, quatro famílias de Maringá, em um total de 15 pessoas, vieram de mala e cuia tentar repovoar uma cidade em Vila de Rei, uma região interiorana no centro de Portugal. O projeto, um acordo da Câmara Municipal de Vila de Rei com a Prefeitura de Maringá, no Paraná, tinha como objetivo combater a desertificação da aldeia, que até então contava apenas com uma população bastante envelhecida e uma mão-de-obra pouco ativa.

Àquela altura, o programa prometia casa, alimentação, luz, escola para quem tivesse filho, além de visto de residência e contrato de trabalho numa casa para idosos. Resultado: mais de dois mil maringaenses se inscreveram na Prefeitura da cidade, todos com o objetivo de melhorar a qualidade de vida.

Depois de assinado os contratos, as famílias foram recebidas com festa por parte das autoridades portuguesas, tudo porque largaram suas vidas no Brasil para vir ajudar a repovoar uma cidade praticamente perdida em terras lusitanas. Apareceram em jornais, revistas e foram entrevistados inúmeras vezes por repórteres de diversos canais de TV. Entre os selecionados para tamanha responsabilidade, estavam um professor, uma psicóloga e uma jornalista. De acordo com a autarquia de Vila de Rei, a idéia era trazer mais 250 brasileiros oriundos de Maringá até 2008.

Hoje, cinco meses depois de toda a euforia, os brasileiros dizem sentirem-se enganados. Das quatro famílias que aqui desembarcaram, apenas uma continua na aldeia. Uma voltou para o Brasil, outra mudou-se para uma cidade vizinha e a terceira fugiu para uma cidade nos arredores de Lisboa, dizendo que abandonaram o local porque nada que lhes prometeram foi cumprido. Em entrevista a um canal de televisão, um deles usou a palavra “pesadelo” e disse que até chegou a passar fome. A Câmara Municipal afirma que nunca criou falsas expectativas em relação ao que seria dado aos brasileiros em Vila de Rei. Mas agora é tarde demais. Vivendo de forma precária, tudo que eles querem é juntar dinheiro para voltar ao Brasil. Portanto, caro amigo, é sempre importante desconfiar se te oferecerem “casa, comida e roupa lavada” no exterior.

O paraíso é aqui

O sino bate pontualmente às 6h15 da manhã: hora de acordar. Quinze minutos depois, o café e o pãozinho quente estão servidos na mesa. E como trata-se de um dos lugares mais fantásticos do Brasil, nada poderia deixar de ser ao som da algazarra dos pássaros, que voam livremente numa das pousadas mais charmosas da região. Sim, o paraíso fica no Pantanal Matogrossense.

De repente, uma bela aterrisagem de um tucano, que diante de tantas árvores não consegue escolher o melhor galho. Arara também há aos montes, que com sua belíssima plumagem encanta qualquer turista. O dia começa mesmo cedo, e às 7h todos devem estar prontos para mais uma jornada. Pela frente, ainda tem caminhada dentro das matas, alimentação aos jacarés, passeio a cavalo e de barco. E de quebra, o viajante pode ter a sorte de observar o pôr-do-sol mais bonito da sua vida.

Viajar ao Pantanal não é meter os pés na lama. Nem mesmo deparar-se somente com cobras e jacarés. É uma viagem que nos faz crescer pessoalmente e experienciar novas culturas. Sentir-se longe da civilização também é importante. E o brasileiro, infelizmente, ainda não descobriu isso.

Segundo as estatísticas do governo do Mato Grosso do Sul, 70% dos turistas que vão ao Pantanal são estrangeiros. Gente do mundo todo atrás de coisas belas que só nós temos, mas que deixamos de lado.

Depois de anos fora do Brasil e por ter conhecido gente de todos os lados, cheguei a conclusão de que todo mundo um dia já quis ser brasileiro: os franceses, os ingleses, os dinamarquêses... Até entendo o porquê. Mas enquanto isso, nós, brasileiros, por outras questões, queremos mesmo é morar longe de lugares assim. Bem longe do paraíso.